Para muitos, o dia 10 de julho pode ser um dia comum, mas para os trabalhadores da Fundação Casa de São Paulo é um dia especial e de fé.
A exatamente 9 anos atrás, o governo do estado de São Paulo sofria a maior derrota de sua história, anunciava a reintegração do ultimo lote dos 1751 servidores demitidos em 17.02.2005.
Estes últimos servidores que foram reintegrados, na época da demissão não possuíam os 3 anos do estágio probatório.
Conforme a decisão do TRT da 2ª região, os servidores com mais de 3 anos deveriam ser reintegrados, porém os com menos de 3 anos, era concedido a estabilidade de 60 dias, da qual a FC poderia indeniza-los e considerar reincidido o contrato de trabalho.
Acorrentados no STF servidores demitidos |
Para muitos, os chamados novatos, a batalha parecia estar perdida.
Porém, contrariando todas as previsões jurídicas de grandes advogados, entre eles o atual ministro da justiça Alexandre de Moraes, todos os servidores foram reintegrados e muitos atribuem esta façanha a um milagre intercedido por Nossa Senhora Aparecida.
"Quando li no jornal que o ex-presidente do sindicato Gilberto colocou uma Cruz nas costas e junto com mais alguns companheiros caminhou a pé mais de 150 Km até a Aparecida do Norte para pedir por nós, eu que estava desanimado senti uma Fé brotar dentro de mim e uma confiança na luta que jamais havia sentido e realmente pela fé o milagre se operou e fomos reintegrados.
Hoje tenho certeza que não só eu, mas todos aqueles que viram no facebook as fotos do companheiro Gilberto com sua família lá no santuário de Nossa Senhora Aparecida, tenho certeza que como eu encheram os olhos de lagrimas, pois sabemos que ele estava lá para agradecer o nosso milagre que muitos diziam ser impossível". Disse Carlos Buril Uilson, um dos servidores reintegrados.
O Jornal tribuna da época descreveu "Alguns quilômetros atrás, em
Pindamonhangaba, estava um outro grupo, liderado pelo funcionário público
estadual Antonio Gilberto da Silva, 39 anos. Cinco servidores da Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) de São Paulo decidiram recorrer à Nossa Senhora
Aparecida, a quem pedem a reintegração dos 1.700 trabalhadores demitidos pelo
governo Alckmin em fevereiro deste ano.
"A
esperança está nela (Nossa Senhora). A Justiça já determinou o retorno dos
funcionários, que hoje estão passando fome, mas o governo ainda não acatou a
determinação", afirmou Gilberto, que levava uma cruz."
"Aquele dia 12 de outubro de 2005 jamais vou me esquecer, pois em plena basílica de Aparecida lotada e cheia de emissoras de televisão, o Giba fez o governador Geraldo Alckmin ficar desconsertado.
Quando estava chegando no final da missa, o Giba chegou bem perto do governador e na hora que ele (Alckmin) começou a falar para as emissoras de TV, como um louco o Giba começou a gritar Alckmin você não engana Nossa senhora, e ela vai te cobrar Alckmin do que você esta fazendo com os funcionários da febem, que você esta matando e torturando com a demissão. Cumpre a decisão judicial Alckmin.
Na hora todas as câmeras deixaram de filmar o governador para filmar o Gilberto e os seguranças do governador ficaram atordoados, não sabiam se prendiam o Giba ou se tiravam o governador dali e optaram em tirar o Alckmin porque era evidente que prender o Giba ali iria acabar com a imagem do governador que posava de bonzinho" Disse Eduardo Oliveira da antiga UDM.
"Já Cleverson Fernandes acompanhava a peregrinação pois seu pai Cleber Fernandes que era um dos funcionários demitidos estava muito adoecido para tal jornada.
Ele conta que não satisfeito em desmoralizar o governador dentro da basílica, o Giba como ele o chama, pegou do lado de fora o então secretário de educação da época Gabriel Chalita cuja a febem estava subordinada.
"O Chalita estava dando uma entrevista ao vivo para a tv bandeirantes e quando o Giba viu não teve duvidas, encostou do lado enfiou o dedo na cara dele e começou a esculhamba-lo ao vivo, o Chalita e o jornalista ficaram sem reação. Ai a Leila que era uma outra funcionária que também estava lá nos falou vamos tirar ele dali porque vão prende-lo.
"O Giba é louco e acabou com eles, graças a loucura dele hoje meu pai é aposentado da febem e não demitido como torturador." Disse Cleverson emocionado.
Servidores demitidos pela 28 dias acampados no STF |
Para Gilberto, o dia 10.07 é um dia sagrado. É dia de ir lá na padroeira que ele tanto confia agradecer a reintegração dos servidores, o que ele atribui ser um milagre dentre tantos que já recebeu segundo ele.
"Todos nós estávamos perdidos, pois a decisão do TRT só mandava reintegrar os funcionários com mais de 3 anos, mas na assembléia eu tinha dado minha palavra que reintegraríamos a todos os 1751.
Na noite anterior dois companheiros um de Marília - Marcos Simões e Heitor Teodoro que era de Bauru, diretores do sindicato recém eleitos, dormiram na minha casa e questionaram o que dirianos aos trabalhadores com menos de 3 anos.
De madrugada, enquanto eles dormiam, levantei e fui até o altar de Nossa Senhora e Santo Antonio que eu tenho em cima de minha geladeira e comecei a rezar e pedir ajuda.
Fiquei ali por uns 40 minutos e depois fui dormir, mas sabe quando você dorme e seu cérebro continua trabalhando.
Ao acordar de manhã, fui até a cozinha olhei para a santa me ajoelhei e fiz um pedido para que ela mostrasse o caminho.
Quando estávamos saindo, lembrei de minha carteira e na pressa esbarrei na escrivaninha e vários papéis caírem no chão, ao junta-los, lá estava o acordão do TRT de 2004, processo 20231/2004.
Veja só, entre tantas paginas caiu aberto justamente na parte em que a desembargadora Dra. Vânia Paranhos dizia, estabilidade por tempo indeterminado enquanto perdurar a falta de segurança.
Na hora me veio um clarão e o pensamento este processo esta com efeito suspensivo no TST e ainda não foi julgado, se conseguirmos que o TST mantenha a decisão, todas as demissões serão anuladas automaticamente, pois os servidores estarão protegidos por aquela estabilidade. E foi o que aconteceu graças a Nossa Senhora e a confiança que aqueles trabalhadores depositaram na minha palavra." Disse Antonio Gilberto da Silva
Diante de sua tese, Gilberto mobilizou os servidores, acampou em frente ao TST após negociar com o Ministro relator do processo Exmo. Min. Luciano de Castilho, que inclusive o elogiou publicamente em reunião do pleno daquele tribunal, além de acompanhar Gilberto para conversar com cada ministro que participaria da sessão de julgamento.
O final da história todos os reintegrados conhecem de cor, pois a vitória no TST foi estrondosa.
Mas a direção da FC que já estava desmoralizada, se negava a cumprir.
Mesmo sem o apoio da maior parte dos diretores do sindicato, Gilberto e um grupo de 120 servidores acamparam na porta do STF em greve de fome por mais 28 dias, chegando a comerem casca de melancia refogada, pelo fato do sindicato boicotar o movimento.
Sensibilizados com a fé e coragem daqueles guerreiros que estavam acampados, os servidores das unidades começaram a se mobilizar e fazer vaquinha para manterem o grupo no acampamento.
Entre os trabalhadores que enviavam recursos retirando de seus próprios salários, os do Tatuapé, Marília, Bauru e Lins foram os que mais contribuirão para a vitória.
A fé em nossa senhora me fortalece |
No dia 10.07.2007, ao ver a convocação do ultimo lote de reintegrações, Gilberto silenciosamente foi até o Santuário de Aparecida agradecer a graça alcançada, pois sua palavra estava cumprida e assim, se retirou do sindicato.
Subindo as escadas de joelhos agradecendo a saúde do filho |
Desde então, todos os anos Gilberto vai lá na no santuário de Aparecida agradecer o que considera um milagre.
"Fui Humilhado, pois muitos diretores como Julio Alves, Neves, Adônico, João Faustino, Gusmão e até mesmo alguns trabalhadores me chamavam de mentiroso e diziam que eu estava enganando a categoria.
Gilberto, esposa e filho em aparecida hoje 10.07.16 |
No entanto, a minha fé em Deus e na justiça divina intercedida por Nossa Senhora, não me deixaram tremer e nem me abalar.
Pela fé trilhei o caminho dos justos e movimentei na categoria aqueles que tiveram fé, e na fé fomos vencedores.
Hoje digo aos que me humilharam, minha fé em Deus é meu galardão, meu baluarte, meu ouro e minha prata.
Minha espada, é a fé em um Deus vivo, que não deixa que eu me curve diante do inimigo, mesmo sendo o inimigo poderoso.
A fé compartilhada com família e amigos |
Hoje fui lá agradecer a Deus e a Nossa Senhora e claro, aproveitei para pedir que ela fortaleça e abençoe a cada trabalhador que na greve deste ano mostrou sua coragem, honra e sede de justiça.
Pedi que ela não os deixe esmorecer diante das dificuldades que se apresenta no momento. Derrame sobre todos sabedoria e coragem para o embate final.
Por isso digo, tenham fé e não se abalem, pois vocês já são vencedores ao enfrentarem o inimigo de frente e com a coragem de um Gedião, pois aquele que luta com fé em busca da justiça e da sua dignidade, estará sempre protegido por Deus e andará de cabeça erguida e com orgulho. Disse Gilberto.
Por: Henrique Bodezan
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