Lançado pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD)
nesta semana, o relatório mostra que, de 1990 a 2014, o IDH do Brasil foi o que
mais cresceu entre os países da América do Sul e ocupa o 75º lugar em ranking
de 188 países.
|
Com o tema focado na adaptação ao novo mundo do trabalho,
relatório de desenvolvimento humano 2015 reúne queda na pobreza e destaca Bolsa
Família. Foto: Flickr/PNUD
|
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil
apresentou melhora em 2014, confirmando a tendência de crescimento observada
nas últimas décadas. O país também teve queda na pobreza multidimensional, que
considera as privações que as famílias possam ter em saúde, educação e padrão
de vida. Os dados fazem parte do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH)
lançado pelo PNUD na segunda-feira (14/12) em Adis Abeba, na Etiópia.
Com IDH de 0,755, o Brasil está na categoria de países de
Alto Desenvolvimento Humano, a mesma que ocupam Uruguai, Venezuela, México,
Turquia, Rússia e China. Entre 2010 e 2014, o indicador do país cresceu 0,60%
ao ano. O ritmo mais acelerado do Sri Lanka (0,62%) no período fez com o que o
Brasil perdesse uma posição no ranking, aparecendo agora em 75º entre 188
países e territórios reconhecidos pela ONU.
Em uma perspectiva de longo prazo, o RDH 2015 mostra que o
Brasil continua a seguir uma tendência de crescimento do IDH, com uma alta
acumulada de 24,2% entre 1990 e 2014, um crescimento anual médio de 0,91% no
indicador. Esse foi o melhor desempenho entre os países da América do Sul no
período.
Isso significa que os brasileiros ganharam 9,2 anos de
expectativa de vida, viram a renda aumentar 50,7% enquanto, na educação, a
expectativa de anos de estudo para uma criança que entra no ensino em idade
escolar cresceu 24,5% (3 anos), e a média de anos de estudos de adultos com 25
anos ou mais subiu 102,6% (3,9 anos).
Queda da pobreza multidimensional
A evolução dos indicadores seguiu-se pela queda da pobreza
multidimensional, que aponta privações que as famílias podem ter em educação
(taxas de matrícula e anos de estudo), saúde (desnutrição e mortalidade
infantil) e padrão de vida (acesso a água, energia elétrica, tipo de piso,
saneamento, tipo de combustível doméstico e bens de consumo).
Entre 2006 e 2013, o total de brasileiros que vivem em
condição de pobreza multidimensional caiu de 4% para 2,9%. De acordo com os
dados, a maior privação é na área de saúde, especificamente em relação à
mortalidade infantil. Da mesma forma, o percentual de famílias que vivem próximas
à pobreza multidimensional, ou seja, que estão mais vulneráveis a essa
situação, caiu quatro pontos percentuais descendo de 11,2% para 7,2%, no mesmo
período. A fonte nacional usada para o cálculo foi a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE.
Desigualdade ainda persiste no país
Mesmo reconhecendo o avanço social consistente do Brasil nas
últimas décadas, o Relatório traz dados que confirmam o alto nível de
desigualdade no país. A distribuição desigual do desenvolvimento humano é
medida em cada uma das três dimensões do IDH (longevidade, educação e renda) e
então descontada do valor original do indicador.
Quanto maior o percentual de desconto, maior a desigualdade
no país. No caso brasileiro, descontada a desigualdade, o IDH teria uma perda
de 26,3%. A redução em razão da desigualdade está entre as maiores do grupo de
países de Alto Desenvolvimento Humano (19,4%), ficando atrás apenas do Irã
(33,6%) nessa categoria e à frente da média mundial (22,8%).
O reflexo da desigualdade no Brasil também se nota quando o
assunto é gênero. No Brasil, apenas 9,6% dos assentos no Congresso Nacional são
ocupados por mulheres. O índice está muito abaixo da média mundial (21,8%) e de
países como Zimbábue (35,1%), Síria (12,4%) e Arábia Saudita (19,9%). A
Bolívia, país vizinho do Brasil, possui 51,8% de mulheres ocupando estes
cargos.
No campo da saúde e da educação, o Relatório afirma que as
mulheres vivem e estudam mais do que os homens. No Brasil, a expectativa de
vida das mulheres é de 78,3 anos, enquanto a dos homens é de 70,7 anos. A
expectativa de escolaridade também é maior para elas (15,6 anos de estudo) do
que para eles (14,8 anos de estudo). Mesma situação para a média de anos de
estudo. No caso das mulheres ela é de 7,8 anos, enquanto no caso dos homens, de
7,5 anos. Mesmo estudando mais, a renda nacional bruta para elas é 40,4% menor
do que a dos homens.
A desigualdade de gênero não é uma realidade exclusivamente
brasileira, no entanto. O Relatório afirma que, em todo o mundo, as mulheres
são responsáveis por três a cada quatro horas de trabalho não remunerado, como
aqueles que envolvem atividades domésticas e trabalho de cuidado com crianças e
idosos, por exemplo. Ocupando apenas 22% dos cargos de alta gerência nas
empresas, as mulheres ganham, em média, 24% menos do que os homens, além de
terem menos tempo livre para lazer e atividades sociais.
Bolsa Família faz diferença
Neste ano, o Relatório faz dez menções diretas ao Brasil,
com destaque ao programa de transferência de renda condicionada Bolsa Família,
que recebeu três citações, reconhecendo a iniciativa como uma política pública
de sucesso que forneceu proteção social efetiva à população e que, por isso,
foi replicada em outras partes do mundo.
As outras citações ao país referem-se a associações
sindicais, aumento do consumo da classe média, migração interna campo-cidade,
proporção de extensionistas rurais por família, trabalhadores na indústria do
tabaco, inclusão financeira e sobre o Programa de Aceleração do Crescimento.
Fonte: ONU Brasil