Samarco controla políticos, vítimas e jornalistas
Denúncia de Beatriz Cerqueira, da CUT-MG: empreiteira
interfere na investigação
Escrito por: Beatriz Cerqueira, via Revista Fórum •
Publicado em: 23/11/2015 - 17:07 • Última modificação: 23/11/2015 - 17:15
Após 12 dias do rompimento das duas barragens de rejeitos da
Samarco/Vale/BHP, em Mariana, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG)
realizou a primeira audiência pública, em Belo Horizonte, para debater o
assunto.
Em tese, seria o momento para que deputados estaduais ouvissem
os atingidos pela tragédia e órgãos do governo e de fiscalização colhessem
informações para os trabalhos da Comissão Especial recém-criada.
Mas a audiência se transformou na mais demagógica atividade
protagonizada por nossos políticos. Era uma audiência conjunta com a Câmara dos
Deputados. Mas estes, após tirar fotos, dar entrevistas à imprensa e falar
primeiro, foram embora.
Tiveram o mesmo comportamento no dia anterior, na cidade de
Mariana, durante a audiência da Comissão de Direitos Humanos: falaram, não
ouviram ninguém e foram conduzidos pelas mãos bondosas da Samarco para conhecer
o local da tragédia.
Na capital mineira, assistimos a uma deprimente reunião
conduzida de modo a não ter efeito nenhum, apesar do esforço isolado de alguns
deputados comprometidos com os movimentos sociais.
Ouvimos o Ministério Público falar em “acidente” e se
vangloriar de um Termo de Ajustamento de Conduta com o qual a mineradora
rapidamente concordou para melhorar sua imagem e cujos termos todos
desconheciam. Ouvimos também o representante do Governo de Minas dizer que não
podemos “satanizar” as mineradoras.
Poucos prestaram atenção quando uma convidada explicou que a
empresa errou ao calcular os possíveis impactos do rompimento de barragem,
considerando que atingiria apenas o distrito de Bento Rodrigues e não outras
dez localidades, além de toda a bacia do Rio Doce.
Poucos se importaram com a fala do representante dos
trabalhadores, que denunciou desconhecer as condições a que estão submetidos os
20 trabalhadores que estão na linha de frente da barragem de Germano, que está
trincada.
Aliás, quem informou quantos trabalhadores estavam
desaparecidos foi a empresa, livremente, sem qualquer fiscalização, pois ela
impede que se tenha acesso à informações detalhadas.
Os deputados não entenderam nada do que o Padre Geraldo
disse, de que é preciso respeitar os atingidos, os verdadeiros protagonistas
dessa história. Só que, infelizmente, os protagonistas foram os próprios
deputados, na maioria preocupados em falar e não em ouvir.
Enquanto isso o povo atingido está nas mãos da Samarco, que
atua livremente em Mariana e região. Onde está o Estado? Ainda não chegou. A
Samarco já está presente, contrariando o lamento da deputada desavisada que
reclamou da suposta ausência da Samarco. O desconhecimento da realidade leva a
equívocos assim.
A Samarco está mais presente do que nunca: demitiu no dia
anterior à audiência 90 trabalhadores terceirizados, dos quais muitos já eram
vítimas da tragédia, pois suas famílias perderam tudo na lama.
A Samarco controla todo o acesso aos atingidos que estão nos
hotéis e pousadas da cidade, impedindo que se organizem livremente.
A Samarco reúne-se com os atingidos sem nenhuma proteção do
poder público. Nas horas das infinitas reuniões com a população, não há
Ministério Público nem Governo do Estado presentes e os movimentos sociais são
impedidos de acompanhar.
A Samarco controla a cena do crime e chega a selecionar
quais jornalistas podem entrar. Assim como controla o acesso da população ao
Comando de Operações da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros, que funciona
dentro da sede da empresa.
Livremente, a Samarco chantageia a cidade de Mariana pelo
poder econômico e pelos impactos que a suspensão do seu trabalho na região
causará, como se não tivesse que dar assistência à cidade por todos os
prejuízos causados.
Pelo que se vê, muita gente já está dando retorno ao
investimento que as mineradoras fizeram nas eleições de 2014. Na verdade, quem
está pagando esta conta é povo!
Fonte: CUT
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