Rede de Lojas, humilha funcionários e dá o calote em homologação |
Há mais de quatro meses, o Jornal Língua Afiada vem fazendo um levantamento sobre a situação dos trabalhadores no comércio em São Paulo. O resultado é assuador para quem pretende trabalhar nesta área.
O Jornal Língua Afiada após ouvir relatos de trabalhadores do comércio, buscou apurar as informações trazidas, constatando que o comércio é campeão em reclamações, denuncias de assédio moral, sexual, humilhações, descumprimento dos direitos trabalhistas e calote nas dividas trabalhistas.
Trabalhadores humilhados e expostos em redes sociais |
Em muitos comércios, em especial lojas de roupas, muitos dos empregados estão trabalhando sem o devido registro na carteira e ainda sofrem a retirada ilegal de direitos, como vale transporte, 13º, falta de local adequado para refeições e descanso, não pagamento das comissões, acumulo de função entre outros.
Em muitos casos, sofrem humilhações de forma tão agressiva que muitos não aguentam e acabam adoecidos.
Não bastasse isso, muitos comerciantes pela facilidade que propicia a legislação brasileira, acabam fechando as portas e não pagando as verbas rescisórias. Só que na maioria das vezes, estes mesmos comerciantes acabam abrindo outras lojas em nome de laranjas ou de parentes, o que facilita ainda mais o calote nos empregados.
vendedoras fazem o papel de ajudante de carga e descarga |
Entre estes trabalhadores prejudicados, encontramos Nelvia Jayra Silva Herrera, 23 anos, casada, adoecida e agora desempregada.
Ela trabalhava na Rede de Lojas Dez no município de Itaquaquecetuba. Ela foi contratada como auxiliar do comércio, no entanto, além de fazer vendas e descarregar caminhões com mercadorias, ela e outras funcionárias eram obrigadas a vestirem roupas de bichos, personagens de desenho animado e dançar na porta da loja para chamar a atenção da clientela.
Esse tipo de exposição constrangedora, levou Nelvia ao adoecimento psicológico, ainda mais que a gerente da loja colocou as fotos em sua página na rede social facebook, o que alavancou o numero de gozações e piadas sofridas por ela e por suas colegas de trabalho, agravando seu problema de saúde.
Mas se nosso navegante acha isso absurdo, não viu nada. Após sofrer um constrangimento maior, chegando a ter sua bolsa revistada dentro da loja na frente de clientes e empregados, ela ameaçou entrar com uma ação por danos morais.
O proprietário visando evitar a ação, transferiu Nelvia para a loja de Guaianases em São Paulo, promovendo ela para supervisora de loja, porém, não pagava a remuneração devida em folha de pagamento, mas apenas uma pequena diferença que era paga por fora.
Quatro meses depois, sob o pretexto que a loja iria fechar, Nelvia foi demitida sem justa causa, e, após três meses de espera pela homologação, recebeu como resposta do empregador "vai procurar seus direitos na justiça", deixando a trabalhadora em verdadeiro estado de calamidade.
Para piorar a situação de Nelvia, ela está gravida, foi despejada por não ter como pagar o aluguel, seu marido esta desempregado e a justiça do trabalho estava em greve.
Mas Nelvia fez uma outra denuncia que foi confirmada por uma colega de trabalho que não quis se identificar com medo de ser demitida. A empresa vinha supostamente vendendo suas lojas, só que na verdade para ela, as lojas eram do mesmo dono mas em nome de outras pessoas.
Doc. comprova ligação em lojas Dez e Imperio |
O Jornal Língua Afiada foi até a loja de Guaianases, que supostamente deixou de ser rede de Lojas Dez e passou a se chamar Imperio da Moda. Ali constatamos que o gerente era o mesmo da rede de Lojas Dez, bem como a Maioria das funcionárias, realizamos uma compra e pagamos com cartão de débito, o comprovante saiu em nome de Império da Moda, no entanto, quando a nota fiscal foi emitida para nossa surpresa estava em nome da Rede de Lojas Dez.
Entramos em contato com a rede de Lojas Dez, no entanto não fomos atendidos, já na Império da Moda, fomos atendidos por telefone pelo Sr. Jorge Ladeira que disse ser proprietário. Nos informou sr. Jorge, que realmente ele assumiu a loja de Guaianases, recebendo esta como pagamento de parte da divida que a rede de Lojas Dez devia para a Império da Moda.
Questionado sobre a responsabilidade com o pagamento dos direitos trabalhistas dos empregados da Lojas Dez que ele havia assumido, uma vez que a legislação obriga assumir o ativo e o passivo, ele nos disse que sabia disso, que sua irmã que era advogada o havia orientado, mas que ele não podia fazer nada e que as funcionárias eram testemunhas que ele estava assumindo a loja e que procuraria garantir o emprego de todos.
Ao entramos em contato com a Delegacia Regional de Suzano, fomos informados pelo responsável que Nelvia já havia formalizado uma denuncia e que seria apurado e que a loja poderia ser multada.
Já o sindicato da categoria, nos informou que a denuncia seria encaminhada ao ministério publico e até o fechamento desta edição não recebemos nenhuma resposta sobre a conclusão das denuncias por parte do Sindicato ou da DRT.
Já no centro da capital paulista, nos deparamos com o caso de Nazareth Fernandes dos Santos, que trabalhava como subgerente da IVS Com. de Acess. Cam e Saias Rock Ltda, que após sofrer um acidente de trabalho provocado pelo proprietário da loja, ficou afastada pelo INSS por quase 2 meses.
O empregador, além de não abrir o Comunicado de Acidente de Trabalho - CAT, no retorno dela a demitiu sem justa causa, porém ao invés de fazer o pagamento de suas verbas rescisórias no sindicato da categoria profissional ou na DRT, tentou fazer a homologação em uma estação de metrô, descumprindo toda a legislação.
Nazareth nos relatou que exercia jornada de trabalho superior a contratada, tinha apenas 15 minutos de intervalo para refeições, não recebia a comissão sobre vendas entre outros, o que foi confirmado por uma colega de trabalho em audiência no tribunal regional do Trabalho da Barra Funda.
Além de ficar quase quatro anos aguardando a ação trabalhista, Nazareth ficou sem condições de trabalho, e ainda, foi obrigada a interromper a carreira brilhante de modelo que ela exercia em finais de semana e que estava deslanchando segundo amigos e familiares ouvidos.
Emocionada, ela nos revelou sua frustração, pois ao sofrer o rompimento do ligamento do tornozelo, seu pé esquerdo incha muito mesmo com a dezenas de seções de fisioterapia, impedindo ela de calçar salto alto e de desfilar, causando-lhe um prejuízo financeiro e emocional gigantesco.
O Jornal Língua Afiada visitou também o bairro do Brás, um dos maiores centros de comércio popular do Brasil e ouviu relatos absurdos de trabalhadoras que, em sua maioria, são jovens que buscam seu primeiro emprego e sofrem desde assédio moral até mesmo assédio sexual.
Em uma das lojas que entramos disfarçados de cliente a Kfarzania, localizada na Rua xavantes, constatamos que uma garota de no máximo 18 anos, trabalhava adoecida com medo de perder o emprego. Sem saber que estávamos fazendo a reportagem, indagada como se sentia no primeiro emprego, ela nos disse estar decepcionada, pois, já faziam 3 meses de sua contratação e ainda não havia sido registrada, tão pouco estava recebendo o salário corretamente, e ainda, estava triste em saber que não teria direito a 13º salário no final de dezembro.
Questionada pela nossa equipe porque não procurava a delegacia regional do trabalho, ela nos deu uma resposta que nos deixou atonitos. " Pra que vou lá, além de perder meu emprego que preciso muito, vão me sujar e não arrumo em mais nenhuma loja. além do mais, o fiscal do trabalho teve aqui semana passada, o dono levou ele no escritório que eu vi, deu um dinheiro e ele foi embora sem fazer nada. È tudo pilantra esses fiscais não da pra confiar, as meninas das outras lojas já me alertaram sobre isso".
Nossa reportagem tentou contato via telefone com a superintendência do Ministério do Trabalho localizado na rua Martins Fontes em São Paulo, mas para nossa surpresa, o telefone que consta no portal não atende,
Em conversa informal com alguns logistas, pudemos constatar que a maioria sabe que trabalha de forma irregular e que não cumpre integralmente a legislação trabalhista, no entanto, não se sentem intimidados, visto quer a fiscalização e a legislação lhes garante um sentimento de impunidade.
Enquanto isso, os trabalhadores do comércio continuam sendo vitimas deste tipo de empregador arbitrário e sofrendo todos os tipos de abuso e desrespeito aos seus direitos.
Por: Gilberto Braw.
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