São Paulo registra 15 chacinas este ano; número já é igual
ao de 2014
O número de chacinas – ocorrências com mais de três mortes –
no estado de São Paulo este ano já se iguala à quantidade registrada em todo o
ano passado. Um balanço feito pela Ouvidoria das Polícias do Estado de São
Paulo e obtido pela Agência Brasil mostra que, até a última terça-feira (22),
foram registradas 15 chacinas, com 62 mortes. Em 2014, foram 15 chacinas, com
64 vítimas.
Este ano ocorreram ainda 120 assassinatos registrados nos
boletins de ocorrência como crimes de autoria desconhecida – forma com que a
polícia nomeia casos de homicídios com menos de três vítimas. De acordo com o
ouvidor Julio Cesar Fernandes Neves, na maior parte dos casos, há indícios de
execução. Em 2014, ocorreram 183 crimes de autoria desconhecida com 200 mortes.
“Em Osasco falaram em 19 [assassinatos] na chacina. Mas
tivemos mortes por autoria desconhecida de cinco pessoas, entre a morte de
Ademilson Pereira de Oliveira [policial militar] e a chacina propriamente dita
[que pode ter ocorrido como vingança pela morte do policial], que eles não
contabilizaram por ser autoria desconhecida, mas o modus operandi é o mesmo:
tiro no rosto, no tórax, na cabeça”, disse, se referindo à chacina ocorrida no
dia 13 de agosto.
“Com as autorias desconhecidas, você nunca fica sabendo quem
é o autor. A polícia nega veementemente participar disso. Então sobra para
quem? É como se fossem da bandidagem. Ficam casos que não elencamos naquela
letalidade policial porque não fica definitivamente claro que foi [provocada
por] policial militar”, disse o ouvidor.
Outro dado preocupante, de acordo com Neves, é o número de
mortes ocorridas em confrontos com a polícia. No ano passado, foram 838 mortes.
“Isso significa que foram mortos por agentes da polícia. É impossível, com 838
mortes, pensar que não existem grupos [organizados] como o do Butantã [episódio
em que câmeras flagraram policiais matando um suspeito de roubo já rendido e
jogando um segundo suspeito do telhado, desarmado]”, disse o ouvidor em
entrevista à Agência Brasil.
Neste ano, já foram contabilizadas 571 mortes em confrontos
com a polícia. Os números da Ouvidoria têm como base os dados informados pela
Secretaria de Segurança Pública e pela Corregedoria, já somados os casos de
agosto. “É um número altíssimo”, ressaltou o ouvidor. “Como no ano passado
tivemos 838 [mortes], significa que estamos no mesmo patamar”, afirmou.
Outros números
Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública faz
comparações diferentes e fala em redução dos homicídios múltiplos. “Na capital
foram 43 casos em 2002 contra sete no primeiro semestre de 2015”, disse o
órgão. A secretaria contesta ainda a informação de aumento do número de mortes
causadas por policiais. “A adoção de medidas para reduzir a letalidade policial
pela Secretaria de Segurança Pública resultou na redução de 15% nas mortes decorrentes
de intervenção policial militar de abril a julho deste ano, na comparação com o
mesmo período do ano passado”, informou a nota.
Saiba Mais
Segundo a secretaria, isso ocorreu após a adoção de uma
resolução (SSP 40/2015) que “garante maior eficácia nas investigações de
mortes, pois determina o inédito comparecimento das Corregedorias e dos
comandantes da região, além de equipes específicas do Instituto Médico-Legal
(IML) e do Instituto de Criminalística (IC) para melhor preservação do local
dos fatos e eficiência inicial das investigações”. Além disso, acrescentou o
órgão, foi criado o Conselho Integrado de Planejamento e Gestão Estratégica
“para coordenar as ações policiais e integrar os sistemas de inteligência das
polícias, além de propor medidas para controle da letalidade policial”.
Em entrevista coletiva concedida na última sexta-feira (25),
o secretário de Segurança Pública do estado, Alexandre de Moraes, negou que o
número de chacinas esteja crescendo e que isso seja uma tendência.
Sociedade civil
Os números divulgados pela Ouvidoria são semelhantes aos de
um levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz, elaborado com base em
informações obtidas, por meio da Lei de Acesso à Informação, na Secretaria de
Segurança Pública de São Paulo.
De acordo com a organização, no primeiro semestre deste ano,
foram registradas 12 chacinas com 44 vítimas no estado de São Paulo – estão
fora desse cálculo as chacinas de Osasco e Barueri, de 13 de agosto, e a de
Carapicuíba, ocorrida no dia 19 de setembro. Do total de ocorrências do
primeiro semestre, seis foram na capital, somando 26 vítimas. No mesmo período
do ano passado, foram contabilizadas 13 chacinas com 40 vítimas – três desses
episódios foram na capital, com nove vítimas.
“O número de chacinas, especificamente na capital, neste
primeiro semestre de 2015, dobrou. Outro dado bastante preocupante é que o
número de vítimas, também na capital, triplicou”, disse Bruno Langeani,
coordenador do Sou da Paz.
Segundo ele, não é possível determinar o motivo do
crescimento do número de chacinas na capital. “De qualquer maneira, esse dado
preocupa porque se a gente olhar para além das chacinas, houve um aumento
também do número de homicídios onde há indícios de execução, que é um tipo de
informação que a Secretaria de Segurança Pública passou a divulgar há pouco
tempo”, afirmou Langeani.
Entre janeiro e junho deste ano, 24% do total de homicídios
da cidade de São Paulo tiveram indícios de execução, ou seja, uma em cada
quatro vítimas de assassinatos foi executada. No ano passado, essa taxa era de
16%. “Isso mostra um crescimento bastante grande. E combinado com essa
informação das chacinas, sugerem a existência de grupos de extermínio ou de
matadores em ação”, acrescentou Langeani.
A ideia da existência de grupos de extermínio atuando no
estado é contestada pela secretaria. “A SSP refuta a tese de grupo de
extermínio nas corporações”, informou o órgão.
Fonte: Agência Brasil
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