Alunos e professores lamentam fechamento de escolas em São
Paulo
Estudantes que terão as escolas fechadas para a
reorganização do ensino na rede estadual de São Paulo lamentam os prejuízos que
poderão ser causados pela mudança. O fechamento de 94 escolas (25 na capital
paulista), anunciado pelo governo estadual, afetará 311 mil alunos. O objetivo
é separar as escolas por ciclos, entre anos iniciais e finais do ensino
fundamental e do médio.
A Escola Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo,
no Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade, está entre as que serão fechadas. A
corretora de imóveis Tânia Bueno chorou ao falar sobre os problemas que a
reorganização ocasionará na vida da filha Vitória, aluna da escola.
“Estou muito triste, porque estamos em um país em que não se
tem ensino, não se tem nada, e agora vão tirar o pouco que temos. Não dá para a
acreditar, minha filha ficou muito chateada”, afirmou a corretora. Tânia disse
que a escola a ser fechada oferecia bom ensino e é bem localizada. Ela destacou
que a filha teve, inclusive, oportunidade de estudar em escola particular, mas
preferiu permanecer na atual.
O advogado Evandro José de Lima, de 94 anos, tem duas netas
que estudam na mesma escola. Elas moram em um condomínio onde vivem 3 mil
pessoas, a cerca de 50 metros da unidade de ensino. No condomínio, há muitas
outras crianças matriculadas na Escola Emiliano Augusto Cavalcanti de
Albuquerque e Melo. “É um absurdo, um país que está precisando de escola, de
cultura, e vão fechar escola?”, reclamou.
Lima calcula que a outra escola mais próxima fica a pelo
menos 2 quilômetros da que será fechada. “É muito longe, tem o problema da
condução, da mudança de amizades. Tem aquele núcleo se perde”, lamentou o
advogado.
Prejuízo para professores
A Escola Estadual Miss Browne, na região de Perdizes, também
fechará. Segundo a professora Helena Teixeira, que leciona língua portuguesa há
17 anos nessa unidade, muitos docentes temem não conseguir preencher o horário
da jornada de trabalho nas novas escolas. Com a redução do número de aulas,
alguns professores poderão ter de lecionar em várias unidades para permanecer
com salário igual.
“Vai ter superlotação das salas. Fizeram essa bagunça para
melhorar a qualidade de ensino, mas não é nada mais que uma falácia. Tudo isso
veio de cima para baixo, da noite para o dia, sem consulta ao corpo docente, à
comunidade e aos alunos. Esse prejuízo, ou desgoverno, veio da noite para o
dia, sem aviso prévio”, reclamou a professora.
A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial
do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, disse que o
governo não poderá demitir professores efetivos, mas reduzirá custos diminuindo
a jornada de trabalho. Em média, um professor com jornada de 40 horas semanais
recebe R$ 2,4 mil por mês, valor que poderá cair par R$ 1,8 mil em caso de
cortes na jornada, afirmou Maria Izabel. “Agora, pergunto: um professor
consegue viver com um salário desses?”
Para Izabel, o maior impacto para os alunos será a
superlotação nas salas de aula. A sindicalista disse que é contra a separação
dos ciclos (anos iniciais e finais dos ensinos fundamental e médio) por
acreditar na importância da integração entre alunos de diferentes idades.
Ontem (29), cerca de 20 mil professores se reuniram naAvenida Paulista para protestar contra a reorganização escolar.
Outro lado
Segundo o secretário estadual da Educação, Herman Voorwald ,
as mudanças são motivadas pela a queda de matrículas de novos alunos. Houve
redução, entre 1998 e 2014, de 6 milhões para 3,8 milhões de estudantes. Além
disso, um estudo mostrou que os alunos têm melhor desempenho nas unidades de
ciclo único, disse ele.
Em nota, a Secretaria da Educação informa que consolidou o
estudo de reorganização de sua rede de escolas, que prevê a criação de 754
unidades atendendo a apenas um ciclo de ensino e focadas em apenas uma faixa
etária. Com isso, 94 escolas estaduais de São Paulo serão fechadas e destinadas
a outras atividades educacionais. “Cabe destacar que a reorganização é um
processo contínuo e duradouro, realizado com responsabilidade e transparência”,
diz a nota.
A partir do ano que vem, 2.197 escolas em todo o estado (43%
do total) passarão a funcionar no novo modelo. Serão abertas 2.956 classes,
hoje ociosas, e haverá uma diminuição de 18% de escolas de dois segmentos,
passando de 3.209 para 2.635, acrescenta a secretaria.
Fonte: Agência Brasil
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