Hospital da UFRJ abre unidade para cirurgia em pacientes com
síndrome de Down
A primeira unidade cirúrgica do país para acolher pessoas
com síndrome de Down e outras necessidades específicas já está em
funcionamento. O local foi inaugurado na sexta-feira (16), no Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).
Diretor-geral do hospital, Eduardo Côrtes afirmou hoje (20)
que não se trata de um centro cirúrgico específico para pacientes com Down, mas
de uma unidade com mais privacidade para pacientes e familiares. “Nossas
enfermarias são de quatro e seis leitos. Às vezes, as pessoas com síndrome de
Down falam com muita dificuldade, engolem com muita dificuldade. Por isso, tem
de colocar a família junto. A sala cirúrgica é comum, mas a unidade é um quarto
espaçoso, com sofá-cama e espaço para toda a família ficar, inclusive com um
banheiro específico.”
Segundo Côrtes, ainda não se sabe qual a demanda pelo
serviço. “Isso nunca existiu, mas que o hospital está aberto para quem
precisar. Não tem fila. Pode chegar que vamos atender. Pode procurar direto,
mas o encaminhamento é mais adequado, porque a pessoa precisa de um hospital de
apoio perto de casa. Então, é melhor procurar o posto de saúde para ser
encaminhado. Mas não vamos burocratizar. Se a pessoa for lá, vamos avaliar e,
se for um caso cirúrgico, vamos operar.”
O diretor lembrou que o hospital não tem atendimento
ambulatorial para portadores da síndrome de Down, apenas a parte cirúrgica.
Côrtes esclareceu que a ideia de abrir a unidade de internação surgiu quando o
hospital atendeu uma paciente que tentou durante três anos uma cirurgia de
vesícula e era recusada por outros hospitais da rede pública.
“Ela estava há três anos tentando a cirurgia. Já tinha tido
quatro crises de vesícula e deu sorte de não ter morrido nessas crises, porque
o cálculo migra e pode dar uma infecção. É uma paciente que não fala, não anda,
não engole nada sólido e tem de ter comida líquida ou pastosa. É muito limitada
a parte cognitiva.É uma pessoa dependente de cuidados especiais. Foi uma luta
para a família. Isso nos inspirou a criar essa unidade e nos preparar para
isso.”
A médica pediatra Ana Claudia Brandão, responsável pelo
programa de síndrome de Down do Hospital Israelita Albert Einstein, informou
que a condição genética gera aumento da frequência de algumas doenças nessa
população, sem necessidade de tratamentos diferenciados.
“As crianças nascem com mais chances de alterações
cardíacas, algumas com má-formação intestinal, problemas de tireoide, visão e
audição. A puericultura não é diferente de todos os demais bebês, mas tem essas
doenças que são mais frequentes. O médico precisa estar bem treinado para não
perder o diagnóstico, porque tudo é tratável e se não tratar vai comprometer o
desenvolvimento desse bebê, o desenvolvimento cognitivo dele.”
Segundo ela, que faz parte do Movimento Down, é preciso
melhorar a formação do médico para lidar com portadores da síndrome. “Nesse
sentido, acredito que, por enquanto, nossa população de médicos não está bem
treinada para conhecer as especificidades das crianças e das pessoas com Down.
Talvez seja interessante ter serviços clínicos específicos, de acompanhamento
clínico de saúde, com realização de exames periódicos de avaliação para visão,
audição e problema de tireoide, que são os problemas mais comuns das pessoas
com síndrome de Down.”
De acordo com Ana Claudia, portadores da síndrome são mais
propensas a desenvolver diabetes, doença celíaca, algumas leucemias e problemas
ortopédicos. Côrtes acrescentou que também são comuns alterações dentárias, de
drenagem nos seios da face e na coluna vertebral, que podem ser corrigidas
cirurgicamente.
Conforme a médica, a síndrome de Down, também chamada de
trissomia do cromossomo 21, não é uma doença, mas uma condição genética na qual
os indivíduos apresentam três cromossomos 21 e não dois como na maior parte da
população. De acordo com o Movimento Down, a estimativa é que existam 270 mil
pessoas no Brasil com a síndrome.
Eduardo Cortês adiantou que o Hospital Universitário está
organizando um simpósio sobre cirurgias em síndrome de Down para médicos e
profissionais de saúde, além de palestras para as famílias. O encontro deve
ocorrer em dezembro.
Fonte: Agência Brasil
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