Dilma tira poderes de comandantes militares
08.09.2015
Brasília - Como se já não bastassem as crises política e
econômica que atingem o governo, o Palácio do Planalto, agora, resolveu criar
problemas com a área militar. Na quinta-feira da semana passada, a presidente
Dilma Rousseff assinou decreto 8.515, que estava na gaveta da Casa Civil há
mais de três anos, tirando poderes dos comandantes militares e delegando ao
ministro da Defesa competência para assinar atos relativos a pessoal militar,
como transferência para a reserva remunerada de oficiais superiores,
intermediários e subalternos, reforma de oficiais da ativa e da reserva,
promoção aos postos de oficiais superiores e até nomeação de capelães
militares, entre outros.
Hoje, estes atos são
assinados pelos comandantes militares. A medida foi recebida com
"surpresa", "estranheza" e "desconfiança" pela
cúpula militar, que não foi informada que ela seria assinada pela presidente e
publicada no Diário Oficial de sexta-feira.
A responsabilidade pela decisão de o decreto ter saído do
fundo da gaveta para o DO estava sendo considerada um mistério. No final do
dia, no entanto, a Casa Civil informou que o envio do decreto à presidente
atendeu a uma solicitação da Secretaria-geral do Ministério da Defesa,
comandada pela petista Eva Maria Chiavon. Mas todos ainda buscam explicações
claras sobre o que realmente aconteceu neste processo.
O comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal
Ferreira, que estava ocupando o cargo de ministro interino da Defesa, e que viu
seu nome publicado no DO endossando o decreto, disse que não sabia da
existência dele. "O decreto não passou por mim. Meu nome apareceu só
porque eu era ministro da Defesa interino. Não era do meu conhecimento",
resumiu o comandante, ao deixar o desfile de 7 de setembro, sem querer
polemizar sobre o seu teor.
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, que estava na China
quando o decreto foi editado, também demonstrou surpresa com a publicação
durante sua ausência do País. "Posso assegurar que não há nenhum interesse
da presidente Dilma tirar poderes naturais e originais dos comandantes",
afirmou ao Estado. "Ainda não estudei o decreto, mas ele visa normatizar
as prerrogativas de cada instância com a criação do Ministério da Defesa e não
tirar o que é da instância dos comandantes", justificou. Wagner lembrou
que o decreto só entra em vigor em 14 dias e que, portanto, "qualquer erro
ainda pode ser corrigido". O texto fala ainda que a competência prevista
nos incisos do decreto podem ser subdelegadas pelo ministro da Defesa aos
comandantes.
Os militares se mostraram bastante "incomodados"
com o ocorrido.
O decreto gerou "uma histeria geral", pela maneira
como foi feita a publicação, sem que a cúpula militar fosse sequer avisada.
"Há uma preocupação de que este decreto, que estava dormindo há anos, foi
resgatado por algum radical do mal ou oportunista, com intuito de criar
problema", observou um oficial-general consultado pelo Estado, ao lembrar
que a publicação do texto agora, foi "absolutamente desnecessária".
Outro militar observou que "faltou habilidade política de
quem tirou o decreto da cartola, em um momento em que o governo já enfrenta
tantas dificuldades, criando uma nova aresta, pela forma como foi feita".
Este mesmo militar comentou que, mesmo o ministro da Defesa podendo delegar aos
comandantes os poderes previstos no decreto, a medida é uma retirada de
atribuição dos chefes das três forças e que, no mínimo, a boa regra de
relacionamento, ensina que você avise a quem será atingido. O decreto anterior
dizia que os ministros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica eram os
responsáveis pela edição de atos relativos ao pessoal militar. A delegação
continuou com os comandantes, mesmo depois da criação do Ministério da Defesa,
há 16 anos.
Fonte: Estadão
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