Ministra Cármen Lúcia destaca preconceito contra mulher na
magistratura
A vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministra Cármen Lúcia, disse que a magistratura brasileira é um dos órgãos da
sociedade e, como outros, tem uma carga de preconceito grande contra a mulher.
Para ela, não significa que não haja justiça nos casos julgados, mas reconheceu
que o acesso é mais difícil.
Ministra do STF Cármen Lúcia |
“A maioria hoje de tribunais, inclusive tribunais superiores
e, principalmente, estaduais é composta de homens. Enfim, nós vivemos em uma
sociedade em que esta é luta para que a gente tenha realmente a igualdade entre
homens e mulheres. Isso é em todos os meios, e não é só no Poder Judiciário. E
digo também no Poder Judiciário, que é responsável por acabar com isso”,
afirmou.
Segundo a ministra, é preciso dar visibilidade ao problema
do preconceito. “O que é escondido e não vem a público, é como se fosse uma
doença, e fica difícil de ser curada”.
Cármen Lúcia lembrou que em 8 de março, no Dia Internacional
da Mulher, o papa Francisco fez um pronunciamento em que a Igreja Católica
reconhece que para as mulheres foi reservado, historicamente, as sobras
ideológicas. “Ou seja, quem dita as ideologias e, portanto, as práticas são os
homens. Isso dito por um papa numa igreja em que não se admite a presença da
mulher e o celibato é obrigatório. É um avanço grande para dar visibilidade”.
A ministra participou hoje (20) no Rio, 2º Seminário
Internacional Violência de Gênero e Feminicídio, organizado pelo Fórum
Permanente de Violência Doméstica, Familiar e de Gênero da Escola da
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), no Tribunal de Justiça do Rio
de Janeiro (TJRJ).
A presidente do Fórum Permanente, a juíza auxiliar da
presidência do tribunal, Adriana Ramos de Mello, destacou que o feminicídio é
uma epidemia. Ela acrescentou que esse não é, especificamente, um fenômeno
brasileiro e se repete em países da América Latina, Europa e nos Estados
Unidos.
De acordo com a juíza, o seminário vai ser importante para a
troca de informações, uma vez que terá a participação de juízas de outros
países como a vice-presidente do Tribunal Constitucional da Espanha, ministra
Adela Asua Batarrita. “São países, a maioria, que já tem legislação de
feminicídio há algum tempo. No Brasil, a lei é recente, de março, então, nós
estamos em um momento muito fértil de ouvir outras pessoas falando sobre o tema
para a gente melhor aplicar a lei brasileira, que foi inspirada, obviamente, em
outras legislações já existentes na América Latina”, disse.
Segundo a magistrada, o Brasil é o décimo sexto país a ter
lei específica de feminicídio e, por isso, o tema ainda é novo para a
sociedade. “O termo feminicídio, muitas pessoas não sabem do que se trata. É
bom que haja esse esclarecimento. Não é só a morte de uma mulher, como o
homicídio é a morte de um homem. É a morte de uma mulher, em razão dela ser
mulher. O gênero feminino é uma motivação para o crime, por isso, tem esse
nome”, explicou.
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