Fila de transplante de medula é longa por falta de leitos,
diz sociedade médica
Mais de mil pessoas estão na fila para transplante de medula
óssea no Brasil devido à falta de leitos, diz a Sociedade Brasileira de
Transplante de Medula Óssea, que iniciou hoje (26) debate sobre o assunto no
19º Congresso Brasileiro de Transplante de Medula. O evento reúne, até sábado
(29), especialistas nacionais e internacionais na cidade de Foz do Iguaçu, no
Paraná. Segundo médicos, a situação é mais grave para os pacientes que precisam
de transplante do tipo alogênico, quando doador e receptor são pessoas
diferentes.
A presidenta da Sociedade Brasileira de Transplante de
Medula Óssea, Lúcia Silla, disse que muitos pacientes esperam atualmente até
dois anos para serem transplantados, quando deveriam esperar apenas sete meses.
“Pacientes com indicação de transplante alogênico levam, em média, de quatro a
seis meses, desde o diagnóstico da doença, passando por várias quimioterapias,
até o momento do transplante. Então, até sete meses é o ideal.”
“No Brasil, temos pacientes com doador aparentado [parente]
que esperam mais de um ano, entre o diagnóstico e a realização do transplante.
Entre os pacientes com doador não aparentado, alguns esperam mais de dois
anos”, afirmou, lembrando que, em países mais desenvolvidos, não existem filas
para esse tipo de transplante.
Lúcia elogiou o Registro Nacional de Doadores de Medula
Óssea (Redome) - de doadores voluntários - que é o maior do mundo, com 3,4
milhões de registros. Ela ressaltou que pouco adianta ter tantos doadores se
não há lugar para o transplante e a equipe especializada. “Houve um crescimento
desproporcional do número de doadores, que não foi acompanhado pelo crescimento
da capacidade de transplantar", disse.
Também conhecido como transplante de células-tronco
hematopoieticas, o procedimento é complexo e caro, o que dificulta o acesso. O
Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável por mais da metade dos transplantes.
O restante é feito por meio de convênios ou instituições privadas. No caso dos
convênios, o SUS ressarce os centros de transplante.
“O transplante não aparentado pode sair de R$ 200 mil a R$
500 mil, pois tem alto grau de complicação, então, a instituição acaba tendo
que entrar com recursos próprios. O SUS tem um pacote e, se o paciente gastar
mais que o pacote, é o hospital quem assume”, afirmou a médica. Ela disse que
reconhece os benefícios da iniciativa do Ministério da Saúde em intensificar a
autorização para novos centros fazerem esse tipo de transplante, e de aumentar
em cerca de 60% o ressarcimento por procedimento para os hospitais que fazem
transplantes de órgãos sólidos. “Isso estimula instituições privadas a aumentar
o número de leitos e atrair novos profissionais”, disse. Ela também afirmou que
a falta de médicos especialistas é outro problema.
Segundo a especialista, o médico que faz o transplante de
medula óssea ganha o mesmo salário se fizer uma ou dez cirurgias no mês. E,
como o transplante é de alto risco, as jornadas de trabalho são longas, e
poucos recém-formados se interessam pela carreira, informou.
O Ministério da Saúde anunciou, no ano passado, a meta de
duplicar a capacidade de transplante de medula óssea até 2016, e de passar a
regular os leitos dos hospitais transplantadores em âmbito nacional, a partir
de janeiro do ano que vem. Além do transplante alogênico, existem os
transplantes autólogo, quando as células-tronco são obtidas do próprio paciente
– o mais comum e simples – e o singênico, quando as células são de gêmeos idênticos.
O transplante de medula óssea (órgão que produz as células
sanguíneas) consiste na substituição da medula doente por células-mãe do sangue
sadias, de um doador compatível. As leucemias agudas são as principais causas
de transplantes alogênicos no Brasil e no mundo. O paciente recebe a medula
óssea por meio de uma transfusão em que as células-tronco são colhidas do
doador, armazenadas em uma bolsa de transfusão e infundidas no paciente, após
ele ter sido submetido a um preparo com quimioterapia associada, ou não, à
radioterapia. O objetivo é substituir a medula óssea doente por células normais
de um doador sadio.
A Agência Brasil solicitou ao Ministério da Saúde
informações sobre o número de transplantes de medula óssea feitos no país nos
últimos anos e a quantidade de leitos disponíveis para esse tipo de cirurgia.
Até o fechamento da matéria, a assessoria do ministério não havia respondido às
solicitaçõesou informado se a meta de triplicar o número de leitos até 2016
será alcançada.
No ano passado, segundo dados do ministério, 70 hospitais
ofereciam transplante de medula do tipo autólogo, quando o paciente é o próprio
doador, e 29 unidades eram credenciadas para transplantes alogênicos, entre
pessoas que não são parentes, que é o mais complexo.
Fonte: Agência Brasil
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