Temos que lutar para melhorar a democracia, não para
sepultá-la, diz Mujica
O ex-presidente do Uruguai e atual senador, José Pepe
Mujica, defendeu o aperfeiçoamento da democracia e repudiou golpes de Estado no
continente. Ele foi aclamado por cerca de 5 mil pessoas, durante palestra na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), na noite desta quinta-feira
(27). Estimativa do número de presentes é da assessoria da universidade.
O ex-presidente e senador do Uruguai José Mujica durante
encontro com estudantes na concha acústica da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj), no campus do Maracanã Fernando Frazão/Agência Brasil
|
Aos 80 anos de idade, o político uruguaio foi intensamente
festejado pela plateia, majoritariamente formada por jovens, que ouviam entre
momentos de completo silêncio ou de palmas entusiasmadas ao discurso de Mujica,
marcadamente contra o materialismo capitalista e a favor da solidariedade
humana. Ao ouvir dos presentes gritos de “não vai ter golpe”, o político
uruguaio fez uma acalorada defesa da democracia.
“Tenho dificuldade para entender, no momento, o que se passa
aqui, porque não me corresponde. Porém, se tenho que ser claro, aventura com o
uniforme dos milicos, por favor! Golpe de Estado, por favor! Este filme já
vimos muitas vezes na América Latina. Esta democracia não é perfeita, porque
nós não somos perfeitos. Mas temos que defendê-la para melhorá-la, não para
sepultá-la”, disse Mujica, e, mais uma vez, ouviu a plateia gritar: “Não vai
ter golpe”.
A palestra, inicialmente programada para ocorrer no Teatro
da Uerj, foi feita no anfiteatro, ao ar livre, com a colocação de telões em
outros espaços do campi, para comportar todo o público. Mujica ressaltou a
importância de os jovens seguirem com a luta política e defendeu a necessidade
de serem solidários uns com os outros.
“Meus queridos, ninguém é melhor do que ninguém. Tenho que
agradecer a sua juventude pelas recordações de tantos e tantos estudantes que
foram caindo pelos caminhos de nossa América Latina. Vocês têm que seguir
levantando a bandeira. Na vida temos que defender a liberdade. E ela não se
vende, se conquista. Fazendo algo pelos outros. Isto se chama solidariedade. E
sem solidariedade não há civilização.”
Um dos assuntos abordados pelo público, que pôde fazer
perguntas ao ex-presidente, foi a questão da liberação do consumo de maconha no
Uruguai, com base em lei aprovada no seu governo. Mujica fez questão de frisar
que nenhum vício é bom, “exceto o amor”, e explicou porque decidiu tomar tal
atitude em seu país.
Estudantes durante encontro com o ex-presidente do Uruguai José Mujica, na concha acústica da Universidade do Estado do Rio de JaneiroFernando Frazão/Agência Brasil |
“Se queremos mudar algo, não podemos fazer do mesmo. No meu
país, tomamos uma decisão. Como não podemos vencer o narcotráfico, pois de cada
três presos, um é relacionado às drogas, ou por tráfico ou por delito que
cometeu para conseguir dinheiro para comprar a droga, decidimos arrebatar o
mercado. Isto não é legalização. É regulação”, disse.
“Nós não cremos que nenhum vício seja bom, salvo o do amor,
todos os demais são ruins. Mas se o vício vai dominar uma pessoa, temos tempo
de atendê-la, porque a temos identificada e conhecida. Se a deixo no mundo
clandestino, ela vai seguir se aprofundando no vício,” acrescentou.
A vinda de Mujica ao Brasil foi patrocinada pela Federação
das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur), que o
homenageou em evento na manhã de hoje na sede da Associação Brasileira de
Imprensa (ABI), no centro do Rio, onde discursou para cerca de 400 pessoas.
Mujica foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. Militante do grupo de
esquerda Tupamaro, ele foi preso político por 14 anos.
Fonte: Agência Brasil
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